terça-feira, 22 de outubro de 2013

À lua!




Vamos ao momento wikipedia: To the Moon é o quarto jogo produzido por Kan "Reives" Gao e o primeiro lançamento comercial de sua desenvolvedora indie Freebird Games. É um RPG de aventura com elementos de visual novel.

A história do jogo começa com um velhinho chamado Johnny que está no seu leito de morte. Ele, porém, através do uso da tecnologia de manipulação de memórias, pode realizar o seu último desejo antes de falecer. Ele tem a possibilidade de apagar todas as memórias dele antigas e modificá-las, passando a viver em um "caminho diferente" para a sua história. O custo é que tal alteração o levaria à morte (o que não é um grande problema já que ele está prestes a morrer mesmo).

O desejo dele? Ir à lua.

[ALERTA DE SPOILERS LEVES]
O interessante do jogo, porém, é entender a motivação dele para fazer isso. Johnny é casado com Rivers, sua querida esposa que faleceu alguns anos antes dele chegar nesse ponto. No decorrer do jogo, porém, percebemos que as coisas não estavam indo muito bem...

O sistema de navegação pelas memórias de Johnny acontecem de modo parcial, indo desde a sua memória mais recente (velhice, morte de River) até os momentos mais antigos (sua adolescência e infância). Eu simplesmente achei espetacular como o personagem Johnny de "velho no leito de morte" se transforma em todo um personagem com motivações, medos e angústias a medida que vamos conhecendo as memórias dele. As cenas de diálogo são interessantíssimas e fazem a gente parar para pensar em muitos assuntos, como "Amor", "Esperança" e "Amizade".


[ALERTA DE SPOILERS MEDIANOS]
Exemplo?




Existe uma cena que os personagens estão discutindo no café de uma livraria. River, a ruiva da direita, olha os livros. Johnny está na mesa com Nikolas e Isabelle, amigos de infância. Nesse ponto do jogo, nós já descobrimos que River sofre uma doença ficando bastante deslocada do mundo - um tipo de autismo - chegando em um ponto na relação que o nosso protagonista está sofrendo por ela ser demasiada fria. E então vem essa frase: "Sometimes you just have to have faith that she cares". Acho difícil não parar pra pensar.

[ALERTA DE SPOILERS PESADOS]

Outro exemplo?

Logo no começo do jogo, tem uma cena que River recebe a carta dos custos de tratamento para a sua doença terminal. O problema: ela e Johnny ainda estão pagando a casa. A escolha é simples: manter a casa que foi tão demorada para ser construída (e em um lugar que representa muito para eles) ou prolongar a vida de River com o tratamento. Johnny quer obviamente a segunda opção... mas River... River não. Ela deseja diferente. E não é a escolha dela decidir se quem fica é a casa ou ela? Johnny então se vê "preso" à escolha dela, querendo ajudar mas não podendo fazer nada, pois ela não quer que nada seja feito. Afinal, do que adiantaria "prolongar" a vida dela se isso não fosse torná-la feliz, pelo contrário, a deixaria triste por ele ter tido que abrir mão da casa? Perguntas, perguntas, perguntas... O "Amor" não pode ser egoísta, não é mesmo? :P


A medida que vamos avançando no jogo, percebemos que a história dos personagens vai se enraizando neles de tal maneira que tudo se torna uma mistura tão densa e cheia de sentimentos que queremos acompanhar cada instante para não perder nenhum detalhe. Os próprios médicos do jogo - que devem entrar nas memórias para modificá-las e praticamente vivenciá-las - se alteram de simples "estamos aqui para fazer o nosso trabalho" para "vamos fazer Johnny ter um final feliz".


Existem coisas no jogo que você só entende depois de jogá-lo por completo e parar pra pensar, também. Nas "memórias reais", River, com a sua síndrome, faz diversos coelhos de origami. Esse evento aconteceu após Johnny contar para aquela que a motivação dele se aproximar dela foi porque ela era "diferente". Ao longo do jogo também percebemos a angústia de River de tentar ser igual a todos mas não conseguir por causa da sua "doença", então para ela pode ser realmente ruim alguém se aproximar porque ela é "diferente". Entretanto, esses coelhos não são um efeito apenas dessa "decepção" dela. Johnny foi uma pessoa que precisou tomar remédios para bloquear parte da sua memória e ele esqueceu o seu primeiro encontro com a River,  encontro no qual eles imaginaram um coelho no céu. Então, os coelhos de origami e todas as perguntas que sucedem ele são uma tentativa de fazer Johnny se lembrar do que ele havia prometido naquele dia...


Que, caso eles se perdessem e não mais se encontrassem, eles iriam até a lua encontrar um ao outro.






[FIM DOS SPOILERS]

Sem dúvidas é um jogo que eu recomendo para qualquer pessoa jogar. É uma história feliz que faz você pensar sobre o que é realmente importante. :)

Nenhum comentário:

Postar um comentário