quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O que eu aprendi na Iniciação Científica


14 de novembro foi o dia que eu entreguei de volta a chave do laboratório para o meu professor orientador. Não foi, porém, o último dia que eu pisei no laboratório e eu tenho certeza que ainda voltarei para lá algum dia - pelo menos para dar um "oi" pro pessoal.

Minha iniciação científica, no Laboratório de Ultrassom (vulgo LUS), do programa da Engenharia Biomédica, na UFRJ, na minha opinião, serviu exatamente aos propósitos que eu esperava dele. Aliás, foi muito além do que eu esperava. Acho que é muito válido fazer uma retrospectiva e refletir sobre isso.

Eu comecei minha iniciação científica em fevereiro de 2011... Eu estava, então, no terceiro período. O que raios eu sabia no terceiro período? A resposta é simples: Nada. De eletrônica? Menos ainda. Então, eu já comecei tendo sorte em achar um lugar que me aceitasse sabendo nada. Vontade de aprender era o suficiente (e eu acho que é o mais importante, no fim).

Qual era a minha maior motivação? Bem, eu tinha começado a namorar então eu precisava de... dinheiro. Hehe, é verdade. Mercenário desde o começo! Além disso, vinha aquela sensação de "realmente, acho que tá na hora de começar a trabalhar em alguma coisa e ter o próprio dinheiro", talvez influenciado pelo motivo anterior, mas também motivado pela vontade de "colocar a mão na massa". Um pouco de "autossuficiência" não faz mal, de vez em quando. Enfim, foi o suficiente para ir procurar algum lugar. Considerando que meu irmão estava saindo da Iniciação dele (tava na hora de se formar!), então eu era um bom candidato. Como essas coisas funcionam por indicação, Nepotismo em primeiro lugar! (Não que eu tenha roubado o lugar de alguém mais competente - acredito que simplesmente não existiam outros interessados).

Então o trabalho começou. O primeiro passo foi aprender a programar em Labview, usando uma apostila, pra conseguir se "sitiar" no que o laboratório usava como linguagem principal para tudo o que ele faz. Acabou que, no fim, eu nem aprendi tanto de Labview e nem precisei realmente usar (mas sei como puxar uma DLL e colocar lá dentro!). A "coisa" mais importante que eu fiz usando Labview foi um "validador de CPF" (aulas de computação II...) usando uma DLL através do Labview. O meu trabalho começou depois desse tempo aprendendo a programar.

O Laboratório tinha interesse em usar um novo Ultrassom (na verdade, Biomicroscópio Ultrassônico, mas vamos simplificar os nomes para facilitar o entendimento...) e eu fui designado para analisar, simular e montar o circuito. Só que o que eu sabia de circuitos elétricos era... nulo. O que eu sabia sobre simulação era bem pouquinho... E eu não tinha a mínima ideia sobre como montar um circuito, na prática. Então, convenhamos, as coisas passaram a ficar relativamente divertidas a partir desse ponto.

Por sorte (sou um cara de sorte) tive pessoas dispostas a me ajudar nesse caminho. Aliás, posso dizer que o trabalho foi evoluindo assim como eu passava os semestres na faculdade. Vieram as eletrônicas, veio circuitos elétricos e as coisas se encaixavam com o que eu fui aprendendo e comecei a fazer sentido. A primeira parte foi fazer o "layout" do circuito (decidi agir como um robôzinho, confiando que o que o fabricante enviou estava correto): para quem "não é do ramo", o "layout" do circuito é "simplesmente" fazer o desenho da "placa do circuito", organizando todos os componentes e todos os fios que os ligam. O problema é que...



... quando o seu circuito tem duas páginas, é muito componente, muito fio e muitos detalhes que um iniciante não sabe como solucionar. Por sorte (já falei que sou um cara de sorte, né?) a pessoa adequada para me ajudar estava bem próxima. Com paciência, ela me explicou o "be-a-bá" e tirou todas as minhas dúvidas que surgiram no caminho, tendo a calma para repetir a mesma coisa algumas vezes até eu entender. E, então, passo por passo, o trabalho foi andando. Uma tarefa quase artística, calculada, mais parecido com um jogo de quebra-cabeça...

Mas claro que outros problemas surgem no caminho... Quando tudo estava indo no bem-bom, descobri que  um certo componente - um circuito integrado responsável por fazer uma onda senoidal - não poderia ser comprado... porque não vendiam mais. Ora, essa foi até uma parte legal. Estava na hora de... PROJETAR. Nesse momento eu já entendia alguma coisa de circuitos!

Peguei os papéis, os livros, os simuladores e corri pro abraço. Contas, modelos, borrachas moídas até arrastar a unha no caderno. E, então, eu "fiz" - peguei o modelo padrão e escalei os valores - um Oscilador de Colpitts. E não é que a belezura funcionou? Além disso, eu já estava entendendo quase que o circuito completamente. Já havia finalizado o layout com essa última "adição" do Oscilador, já havia comprado os componentes e agora era hora de fazer algo mais "bruto": SOLDAR.

Mas não eram componentes "normais", eram os chamados SMD (Surface Mounted Device) que são menores, mais delicados e por isso requerem mais cuidado para soldar. Isso significa, na prática, que eu tive que ter mais paciência e que queimei meus dedos muitas vezes, seja com o ferro de solda ou com a própria solda quente. Por sorte, não deixou marca (diferente de quando me marcaram na aula de eletrônica com um componente mega quente... mas isso é outra história [ou estória, não sei]!).

Paralelamente, tive que programar em outra linguagem ( VHDL, cujo significado é VHSIC ["Very High Speed Integrated Circuits"] Hardware Description Language) uma onda triangular. Essa linguagem, como eu já havia visto numa matéria, foi até tranquila de ser usada para aquele objetivo. O mais bonito foi ver os leds (lampadazinhas) piscando na plataforma de testes, quando tudo deu certo.

Com tudo isso, aconteceu uma coisa que eu esperava acontecer... nunca. A minha orientadora decidiu que eu deveria me inscrever no XXIII CBEB (Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica) e apresentar os meus trabalhos. Ora, lá estava eu no quinto período enviando dois trabalhos. Que foram aceitos. E apresentados. Tenho apenas que agradecê-la imensamente, porque foi uma experiência única que eu tive, bem no meio da minha graduação na faculdade, na área da pesquisa. E, claro, eu ganhei uma viagem com tudo pago para Porto de Galinhas (valeu Dilmãe!).

Mas, como toda jornada tem o seu começo, meio e fim, eu vejo que esse é o meu fim, antes do início de uma outra jornada. Já procurei o meu "sucessor" e agora falta ensiná-lo tudo o que ele precisa saber para conseguir trabalhar bem lá. Entre queimaduras, choques e até mesmo cortes, o saldo foi extremamente positivo. Aprendi muitas coisas, teóricas e práticas, e, o mais importante, aprendi a me virar e a me desvirar para continuar o trabalho. Aprender a andar sozinho no trabalho é uma lição essencial.

Fica aqui o meu agradecimento às pessoas que me ajudaram com os pequenos pedaços do meu trabalho durante esse 1 ano e 9 meses! Fica o meu agradecimento ao pessoal do LUS que me "suportou" durante esse tempo. Fica aqui o meu agradecimento àqueles que me ajudaram - não pretendo esquecer de cada contribuição, por menor que ela tenha sido!

:)

PS: Engraçado... Eu tinha imaginado esse post de um modo diferente como ele saiu. Prefiro como ele está agora!

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