terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Conto Natalino

Era um agradável dia de inverno naquela cidadezinha. Por agradável entenda que nevava bastante. Lá onde os flocos de neve se formavam, nas nuvens de algodão fofas e quase comestíveis, estava um peculiar floco de neve: Flocolino - que algumas vezes se autodenominava Flocolicious - era mais um daqueles flocos de neve que nascia e agora olhava a cidade lá embaixo, torcendo para cair em algum lugar em legal. "Eu vou virar um boneco de neve! Yay!" A confusão de flocos de neve era quase infinita: Dramático falava que iria cair no esgoto - "Eu sou sempre tão azarado, mimimi!", Gelado estava espirrando - "Atchooooooo!", Esquizofrênico estava bem... esquizofrenando, achando que era um meteoro de gelo que iria obliterar a cidade - "Curvem-se perante o Meteoro de Gelo!". Já o Redondo - o maior floco de neve - estava comendo a nuvem de algodão doce para crescer ainda mais - "Tem gosto de frango!".

O vento soprou, a nuvem balançou e logo estavam todos os floquinhos de neve caindo, junto com alguma água, pedras de gelo e muitas outras coisas. Eles gritavam, dançavam e choravam de alegria. Flocolino correu pelo ar, deslizou em círculos, bateu em outro floco de neve, viu seu amigo Esquizofrênico gargalhando que iria explodir tudo, enquanto o Dramático chorava e o Gelado mudava a cada rota após um espirro. Redondo, por sua vez, batia em água e engolia outros flocos de neve.

Estranhamente, todos eles foram rumando ao mesmo lugar, levados pelo vento e pela sorte. Caíram perto de uma casa, onde seria o quintal e encontraram uma infinidade de outros flocos de neve. Dançaram felizes e contentes e fizeram planos. Flocolino queria ser um boneco de neve, mas apenas um pequeno grupo dos flocos tinha essa sorte. O resto era pisado, esmagado, tinha sal jogado em cima e depois escorria pelo ralo. Mas Flocolino não desistiu. Mesmo que a vida dos flocos de neve fosse difícil, ele tinha sonhos e personalidade.

Flocolino começou a girar de um lado pro outro, acumulando neve, olhando para a casa do lado e esperando que alguma criança saísse de lá. Então o terremoto surgiu e ele percebeu que duas crianças corriam na sua direção, dançando na neve, pulando de um lado pro outro, fazendo bolas de neve e se divertindo. Um sorriso surgiu em seu rosto quando a criança fez uma bola de neve envolvendo-o e jogou-o em um monte de neve. Logo estava envolto por outros flocos de neve que, lentamente, agora tomavam a forma de um boneco de neve.

"Serei um boneco de neve, serei um boneco de neve!" Ele gritou feliz, e logo percebeu que todos os seus amiguinhos estavam do seu lado, sendo jogados de um lado para o outro. Riram, cantaram sobre a neve fofa e o gelo frio, enquanto o boneco de neve se formava. Flocolino e seus amigos subiram, para ficar no topo da cabeça do boneco de neve.

A grande magia acontecia agora: O Boneco de Neve precisava de uma "consciência". E isso era conseguido na base da luta entre os flocos de neve, entre os que queriam, é claro. Era muito mais simples descansar e ficar ali. Mas Flocolino queria explorar o mundo, então, ele decidiu lutar. Lutou e lutou contra muitos flocos de neve, na arena suprema do flocos de neve (vulga barriga do boneco de neve), tendo que vencer outras centenas de inimigo. No fim, ascendeu ao posto de Floco Mestre. E o Boneco de Neve Flocolino nascia ali.

O Boneco de Neve Flocolino tirou foto com as crianças, brincou com elas, tomou bolas de neve no rosto mas, no fim, foi poupado da destruição das crianças. O frio havia ficado pior e, por isso, elas entraram na casa delas, antes de dizimá-lo. Agora, Boneco de Neve Flocolino estava do lado de fora e podia andar de um lado para o outro - era só ninguém ver um monte de neve andando que estava tudo bem. Tinha seus bracinhos de graveto, seu nariz de cenoura, seu cachecol maroto e seus olhos de alguma coisa negra cujo autor esqueceu o nome, sem contar a sua cartola de gentleman das neves.

Andou pela cidade, correndo pela noite, vagando e vagando. Olhava dentro das casas e as pessoas, na maioria, estavam em seus computadores ou assistindo televisão. Foi numa dessas televisões que ele viu um programa com mulheres com pouca roupa, em um local quente. "Brasil", era o nome do lugar. Não pode negar que se apaixonou pelo lugar. Porém, aquilo era contra a sua natureza: Como poderia um Boneco de Neve sobreviver ao calor de um país tropical?

Correu, triste, chorando e suas lágrimas se tornaram gelo. Queria ir para aquele país caliente e carismático! Por que deveria ficar preso em um mundo branco e de neve? Pensou que, invariavelmente, ele derreteria e deixaria de existir com o fim do frio: Ele tinha um prazo de validade. Não valia a pena então seguir o seu sonho? Não valia a pena se sacrificar por ele? A neve caía envolta do seu corpo, naquela noite gelada e fria. Pensou, pensou e pensou. Como ele poderia viajar até lá?

"Fácil! Você pode pegar um voo até lá!" Ouviu aquela voz do seu lado. Virou-se e viu um filhote de cachorro. Um filhote de husky siberiano, preto no branco que fitava-o com seus grandes olhos negros. "Sou o cão leitor de mentes, Hus! Olá Flocolino da Neve! Eu te conheço faz cinco segundos, mas já te acho irado! Coça a minha barriga?" Comentou, virando sua barriga para receber carinho. Flocolino coçou-a, surpreso. Um cão que lia mentes. Noites natalinas eram mágicas.

Correu com Hus na direção do aeroporto e logo pularam a cerca, vendo os aviões que iriam decolar. Subiram em um e entraram na geladeira. Ficaram escondidos lá durante longas horas. Foram para um lado e para o outro, jogados loucamente, ao ponto que Flocolino perdeu até o nariz, esmagado. Quando o movimento finalmente parou, Hus foi o primeiro a sair.

"Vou lá fora ver, fica tranquilo aí. Hus em missão de reconhecimento!!!" E saltou para o lado de fora. "Calor de cachorro!" Gritou, logo ao sair. Os minutos passaram vagarosamente, mas logo uma batida soou na geladeira. "Sou eu, o cão mais sinistro de todos! Estamos em um local quente demais! Trouxe um isopor com gelo, sobe aí!" Ele comentou. Flocolino subiu no isopor e afundou-se ali, sentindo a água desmanchar parte do seu corpo. "Hus, eu gostaria de lhe agradecer... Mas, por fazer o meu sonho, minha vida acabará aqui. Obrigado por tudo, amigo!" Flocolino comentou, sabendo que ali seria o seu fim.

"Relaaaaaaaaaaaxa! Você vai terminar a sua vida feliz! Fico contente por ter te ajudado. Segure-se firme, vamos nos divertir!" Gritou Hus, puxando o isopor com os seus dentes - tinha uma fitinha para ele segurar - e correndo loucamente. Correram, correram e Flocolino sentiu o vento quente no seu rosto. Sentiu o espanto das pessoas. Sentiu seu rosto começar a derreter, mas seus olhos observaram tudo. O sol quente. As pessoas. O calor batendo em suas bochechas. Abriu um sorriso, agradecendo ao Hus por cada momento.

E então viu aquele chão dourado que se encontrava com o mar azul na espuma branca. Seus olhos abriram-se imensamente ao ver a praia. Seu corpo já havia quase derretido completamente e agora ele e Hus estavam no meio da areia. Saltou para fora da caixa. Sentiu os raios de sol atacarem o seu corpo. Lentamente sumiu. "Obrigado Hus!" Gritou, enquanto o cão latia a sua volta, pulando, rindo e se divertindo imensamente. Havia realizado o sonho de um amigo e isso era o suficiente para ele.

Naquele momento, porém, Flocolino descobriu a sua real identidade. Ele não era um Floco de Neve. Ele era um Grão de Areia. E, ali, naquela praia, ele encontrou outros Grãos de Areia. Seus irmãos. Perdidos. Deu mão a todos os outros e logo ali surgia o Flocolino das Areias. Era um Boneco de Areia! "Oi Hus!" Gritou, enquanto o cão se surpreendia com o Boneco de Areia que ali surgia. Seu corpo agora era dourado, seus braços e pernas feitos de areia. "Caramba, que legal! Agora você é de areia! Tome cuidado com os gatos! Mas eu te protejo deles! Eu mordo gatos no café da manhã!" Hus saltitou a sua volta, latindo alegremente. E assim Flocolino e Hus puderam aproveitar o verão daquele país quente, apreciando o sol, o calor e as mulheres - e as cachorras [não confundir com a variação mulher-cachorra, por favor], no caso do Hus - com pouca roupa. E, claro, umas caipirinhas de vez em quando!

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Acho que vocês são capazes de entender a magnífica mensagem e lição de moral existente na historinha! Quando acharem-na, me avisem!

Feliz Natal para todos! :D

2 comentários:

  1. Parabéns pela criatividade, Leo! Ficou muito boa a historinha de Natal =)
    Bem, não sei se arrisco a dizer o que entendi de moral. O que ficou para mim é a mensagem de sempre lutarmos pelos nossos sonhos, mesmo que eles pareçam impossíveis ou que as barreiras até eles sejam difíceis. E o inesperado pode acontecer também, mas a gente só descobre se tentar alcançar esses objetivos.

    Um abraço e continue escrevendo =)

    Feliz Natal!

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