sábado, 1 de dezembro de 2012

Asas da Liberdade

Asas da Liberdade


Aquele era um excelente dia para os seus planos. Seus olhos negros fitavam o céu azul, enxergando as pouquíssimas nuvens brancas que dividiam espaço com o grande e dourado sol. Podia sentir os raios do astro rei aquecendo o seu rosto, como o leve toque de uma donzela. O vento soprava calmamente, fazendo-o se sentir bastante confortável. Levou a mão até o emaranhado de cabelos negros em sua cabeça, sentindo o efeito da água salgada neles. Seus ouvidos percebiam o barulho das ondas chocando-se naquele velho cais, assim como o barulho da madeira rangendo. Nem sentia o seu corpo balançando de um lado para o outro, junto com o mar.

- Capitão Pidgeon, toda a carga foi colocada na embarcação! Falta apenas essa parte que você está em cima! - A conhecida voz daquele marujo soou. John fitou-o de cima das grandes caixas de madeira que estava sentado, abrindo um sorriso e revelando os seus dentes meio amarelados pela não tão boa higiene mas igualmente amarelados por causa do rum.

Sem falar mais nada, colocou-se de pé, botando mais uma vez o seu desproporcional sobretudo vermelho por cima do corpo, antes de, em um único salto, sair de cima da caixa. Caiu no chão com leveza, mas fez bastante barulho ao se chocar na madeira do pier e, por um momento, pensou que ela quebraria.

- Certo, certo. Pode colocar o restante na embarcação. Avise-me novamente quando vocês tiverem terminado. - Respondeu calmamente, exibindo um pequeno sorriso ao marujo. Sua voz era firme, mas falava devagar, sem pressa alguma. A verdade era que John Pidgeon era bastante novo, para o trabalho que ele fazia.

Não devia ter mais do que os seus vinte e seis anos, mas os seus traços faziam-no parecer até alguma coisa mais novo. De fato, se não fossem as vestimentas de Pidgeon, ele seria apenas um jovem arruaceiro. O fato era que era um jovem arruaceiro que gostava bastante de rum. Um capitão aprendiz, um jovem pirata... como ele se autodenominava se diferenciava de acordo com o momento. Era estranho ver como um marinheiro já experiente podia ter aquela aparência tão naturalmente jovial.

Era alto, porém. Devia ter próximo de dois metros de altura, pesando por volta dos noventa quilos. Seu cabelo era negro e bagunçado, difícil de pentear porque constantemente ele mergulhava na água salgada e não se importava muito com a própria higiene. Por baixo daquela camisa e calça negras e do sobretudo vermelho, John escondia um corpo bem definido, mãos calejadas e alguns tipos de cicatrizes que um pescador podia arranjar ao longo da sua vida. Orgulhava-se daquela que mostrava marcas da sua batalha contra o "Peixe-Espada da Lâmina Sangrenta". Era um homem do mar, um homem de sal. Sua vida era sempre navegar. Além disso, exalava naturalmente um cheiro de rum que se misturava com o cheiro do mar. Alguns, inclusive, lhe chamavam de "John Fígado de Aço" ou "Capitão Rum". Ele até gostava da reputação que tinha - ou simplesmente não se importava o suficiente.

Respirou profundamente, avistando a beleza que era a sua embarcação. Sim, claro, ele praticamente vendeu um rim para obtê-la. Sim, claro, ele estava atolado em dívidas. Mas, sim, claro, aquele era o seu barco, a sua moradia, a sua propriedade. Os tempos eram difíceis, mas ele havia decidido arriscar. Havia decidido navegar, mais uma vez. Desde que sua última embarcação havia sido destruída em uma tempestade e ele havia perdido quase tudo, ele teve que recomeçar. Reconstruir.

Havia decidido seguir uma velha ideia. Navegar pelo mundo, viajar para todos os lugares, sem rumo. Mas, para isso, precisava de dinheiro. Tinha que fazer negócios. Tinha que enxergar oportunidades. Portanto, precisava reunir o grupo de pessoas com o mesmo sonho que o dele, com os mesmos objetivos. Juntos, poderiam aproveitar a companhia um do outro - mesmo que temporária - para lucrar e crescer.

Asas da Liberdade, esse seria era o nome do seu novo navio. Asas que o permitiriam voar. Mas, na Asa, ainda faltavam as Penas. Estava praticamente sozinho. Precisava encontrar uma nova tripulação. Precisava encontrar novos amigos. Apenas junto de outras pessoas, ele sabia, a Asa poderia ter penas suficientes para voar. Cada uma delas era importante e precisavam trabalhar juntas, em harmonia.

E encontrar pessoas potencialmente leais era uma tarefa complicada. Ele havia conseguido juntar um pequeno grupo para ajudar a embarcar as mercadorias, mas eles não o ajudariam na navegação. O pequeno barco que possuía podia ser operado por uma pessoa só, mas o companheiro de viagem era uma coisa importante, para evitar o tédio e os perigos do oceano.

- Onde está aquele maldito bardo? - Pensou, respirando profundamente. Seus olhos fitaram os "marujos" colocando as mercadorias na embarcação. Faltavam apenas alguns minutos antes de partir. E o seu companheiro de viagem ainda não havia aparecido. Malditos fossem os bardos e as suas lorotas.




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