quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Pesadelo (?)

Ele já estava acostumado com aquele 'trabalho'. Tão acostumado que aquilo era a sua rotina e, por mais incrível que parecesse, também era o seu esporte, sua fonte de diversão. Ele não escondia o sorriso em seu rosto, a não. O sorriso era aberto, ingênuo, escancarado, revelando os seus dentes brancos e toda uma fúria jovial. Júbilo. Frenesi. Naquela dança, ele era o especialista. Ele dançava e o inimigo morria. Seus olhos - dourados - analisaram aquela figura disforme e sombria que avançava em sua direção. Não importava. Era lenta, era frágil. Era uma simples criatura para ser destruída pela lâmina da sua espada. Talvez ela nem merecesse morrer por uma lâmina tão bela.

Um metro e vinte daquele material desconhecido que agora se preenchia com runas douradas, dando um tom único à sua arma. A lâmina não parecia apenas ser extremamente afiada, ela o era. Além disso, um olhar mais observador perceberia que a mesma não continha marcas, como se fosse uma espada virgem. Qualquer um, porém, vendo aquele jovem lutando perceberia que a espada sim havia sido utilizada muitas vezes... pelo menos por ele.  A grossura da arma também impressionava, com a sua "parte mortal" possuindo aproximadamente vinte e cinco centímetros de largura. O punho da arma permitia que aquele guerreiro a segurasse com uma ou duas mãos mas, agora, apenas a mão esquerda do mesmo enrolava-se no mesmo. Era dourado e ao longo do mesmo podia-se ver rubis incrustados, dando um caráter magnífico à arma. Na extremidade do cabo oposta à lâmina surgia a cabeça de um leão dourado, rugindo para espantar os seus inimigos. Os olhos do mesmo eram rubis, dando um ar um tanto quanto intimidador à arma. Por último, a guarda da arma - a parte entre a lâmina e o cabo - projetava-se em raios paralelos, desenhando ao mesmo tempo uma lua e um sol dourados. Esmeraldas, rubis, safiras, ágatas e diamantes se projetavam ao longo do desenho, avançando no começo da lâmina - que se alargava perto do cabo.

O corte deixou um rastro luminoso pelo ar, fatiando a criatura como se ela fosse um mero pedaço de papel. Nem uma gota de suor escorreu do guerreiro, enquanto seus olhos dourados vasculhavam o ambiente. Uma, duas, três... as criaturas surgiam ao seu redor, naquele ambiente totalmente branco e gelado. Ele sentia a neve nos seus pés e o frio tentando invadir o seu corpo... mas a chama da batalha invadia o seu coração e o seu corpo com mais força, mantendo-o aquecido. Deu um passo à frente, na direção do primeiro inimigo, sentindo seu pé afundar na neve. O ambiente era silencioso e agora o cavaleiro marchava na direção dos seus inimigos. Cada passo deixava uma pegada na terra e fazia o som do aço ressoar pelo ambiente. O som metálico, quando as juntas da sua armadura chocavam-se uma com as outras.

Seu corpo inclinou-se para frente, enquanto a ponta da espada se projetava para trás do seu corpo, sendo erguida com uma única mão. Os passos se aceleram na neve, quando ele começou a correr, deixando a sua capa levantar pelo ar. O inimigo parecia paralisado de medo, enquanto ele avançava como um guerreiro. Mantinha o sorriso em seu rosto, sentindo o sabor da batalha, da adrenalina e o cheiro do medo e da morte. O golpe descreveu um arco no ar, antes de chocar-se contra a cabeça da criatura, fazendo-a se dissipar em uma nuvem de fumaça. As outras avançaram em sua direção, prontas para pegá-lo desprevenido.

- Patético! - Ele gritou, enquanto a lâmina da sua arma mais uma vez dançava pelo ar, com grande habilidade, destruindo aquelas criaturas. Mas então ele sentiu algo agarrando a sua perna. Um braço, apertando-o com força. No momento em que se livrou do mesmo com um corte, uma das criaturas caiu por sobre o seu corpo, forçando-o a ficar de joelhos. Seus olhos se levantaram e o branco havia virado negro. Estava cercado. Não eram mais apenas unidades, eram milhares daquelas criaturas. Um muro negro.

Medo. Sentiu aquele sentimento surgir em seu coração e se espalhar. Dúvida. Aflição. Cortava e cortava os inimigos, mas, cada vez, eles estavam mais próximos e o seu corpo mais cansado. O que estava acontecendo? Por que estava tão fraco, tão frágil? Concentrou-se e sua espada brilhou, mas a escuridão absorveu o brilho da sua arma. Quando percebeu, o mundo era negro, não mais branco. Seu corpo até brilhava com a sua magia, mas estava engolido pelas trevas. Estava sozinho e não podia ver o inimigo - mesmo com os seus olhos dourados. Sentiu algo agarrar sua perna, algo agarrar o seu braço. Tentou se livrar, mas no meio da escuridão sentiu o desespero. Uma mão agarrou o seu pescoço, começando a sufocá-lo.

Lutou, cortou, mas nada impedia a escuridão de engoli-lo. No momento em que sentiu a espada deixar a sua mão, seu mundo pareceu perdido. Debateu-se. Chutou, socou, mas o peso se mantinha em seu corpo. Foi jogado na direção do chão e se sentiu caindo, caindo, devorado pelas sombras e pelas trevas...

- AAAHHHHH! - Gritou com plenos pulmões e quando viu estava naquele cama de palha e desconfortável. Sentia o seu corpo pesado e o suor escorria pelo lado do seu rosto. Sua respiração estava forte e o seu coração acelerado. Colocou-se de pé rapidamente, mas sentiu-se tonto e apoiou-se na parede.

- Um sonho? - Perguntou a si mesmo, conhecendo a resposta. Mas seria realmente apenas um sonho, um pesadelo? Levou a mão até os seus curtos cabelos negros, parando para respirar. Aquilo tinha algum significado especial? Tinha que continuar vagando, aquilo podia ser um sinal. Ou teria sido apenas uma péssima noite de sono, devido àquela cama naquele local ruim? Qual era o nome mesmo? "Tubarão Perneta", ele pensou. Que péssimo nome para uma estalagem naquela cidade...

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